A receita para ser digital tem vários passos: começa pelo autoconhecimento, passa por uma estratégia e exige conhecimentos tecnológicos. No entanto, como em todas as receitas, são necessários vários ingredientes, explicam Carolina Afonso e Sandra Alvarez, duas profissionais com experiência nas áreas de Marketing e Comunicação. Um deles é uma boa dose de conteúdos, “o combustível” de uma estratégia digital.
Juntaram-se para refletir sobre os fatores importantes para uma presença digital de sucesso e o resultado foi o livro Ser Digital, que lançaram em plena pandemia. Este foi o grande desafio deste projeto, mas acabou por revelar-se também uma oportunidade, já que o contexto atual destaca a importância da transformação digital.
Pela leitura do livro percebemos que a procura do “Ser Digital” acaba por ser uma procura do “quem somos” verdadeiramente – encontrar a nossa autenticidade. É essa a grande mensagem que querem passar com o vosso livro?
A nossa principal mensagem com o livro Ser Digital é alertar para a necessidade de haver uma presença digital com estratégia, refletida e alinhada com o nosso “eu”, e que seja autêntica e credível.
A tecnologia deverá ser encarada como enabler, isto é, facilitadora, um meio para atingir um fim e não como um fim. Ou seja, são necessárias competências especializadas que também abordamos no livro, como redes sociais, otimização nos motores de busca, etc., mas estas devem estar ao serviço da nossa estratégia de presença digital, que se pretende marcante e bem-sucedida.
Isto vale tanto para pessoas como para empresas que querem afirmar-se no mundo online? Que diferenças pode haver nesta descoberta quando falamos de pessoas ou quando falamos de empresas?
Nós partimos precisamente do universo das empresas, pois é daqui que advém a nossa experiência profissional. Trabalhamos há vários anos nas áreas de Marketing e Comunicação em contexto de empresas. Pareceu-nos relevante fazermos este exercício de aplicarmos o nosso conhecimento nesta área de contexto empresarial para as pessoas que queiram ter uma presença digital e que não saibam como, ou que já tenham e desejem melhorar.
A aplicabilidade é possível, existe é um desafio acrescido, pois somos humanos e temos sentimentos e emoções. Por isso, temos de saber integrá-los na nossa presença digital, que deve ser autêntica, ter um estilo próprio e espelhar o nosso verdadeiro “eu”.
Da experiência que têm, esta descoberta é mais difícil do que parece?
Esta experiência requer autoconhecimento e, como tal, pressupõe uma viagem interior. Há pessoas para quem será mais fácil, pois já fizeram um investimento pessoal prévio nesta área. Porém, para outras é mais difícil, embora necessário para se ter uma presença estruturada e coerente.
Depois desta descoberta do ser, é preciso dar o passo seguinte: o do parecer, como referem no livro. É aí que entra a importância de dominar o meio e as ferramentas digitais?
Precisamente. Estar online implica conhecimentos tecnológicos. Saber como funcionam as plataformas e redes sociais, que conteúdos privilegiam, que formatos resultam melhor e que audiências têm. Tal assenta também numa boa estratégia de conteúdos e storytelling, bem como em fotografia e vídeo. Há um saber especializado necessário para que se possa ter uma presença digital de sucesso.
No livro Ser Digital, destacam os conteúdos como peças fundamentais porque permitem criar relações. Os conteúdos são tão importantes quanto desafiantes?”
Os conteúdos são o “combustível”. Tal como um carro não funciona sem combustível, uma estratégia digital também não funciona sem conteúdos. E, uma vez mais, é importante estarmos conscientes de que é preciso investirmos muitas horas a criar conteúdos, a adaptá-los às várias plataformas.
E aqui os desafios são muitos e envolvem algumas soft skills como criatividade, pois exige atualidade, credibilidade nos temas, reinventar-nos a cada palavra e fotografia para não se cair na banalidade. Ter em mente a importância da criação de valor e mais-valia para quem nos segue.
Para lá disso, é importante também sermos resilientes. Tal como quem aprende a tocar viola não vai acertar no primeiro acorde, aqui é semelhante. É preciso encontrar o tom certo, estar em afinação constante e não desistir.
Qual a maior dificuldade que encontram no processo de produção de conteúdos? É mais complexo encontrar as ideias, dominar a técnica ou ter tempo para as executar?
Aqui é muito subjetivo. Depende de cada um. Existem pessoas mais criativas para quem ter ideias é algo natural, outras mais técnicas que rapidamente dominam as plataformas, e por aí adiante. Não existem pessoas iguais e varia muito.
Os conteúdos apresentam também o desafio da consistência e da persistência?
Sim, tal como mencionámos anteriormente. Tem de existir uma narrativa, um fio condutor. Sermos consistentes nessa narrativa e sermos persistentes – o que não significa persistir no erro. Ou seja, temos de partir com uma boa dose de humildade na bagagem.
Muitas vezes iremos errar e temos de ser flexíveis para ajustar a nossa estratégia ao longo do tempo. Até porque as nossas próprias prioridades evoluem e modificam-se, pois somos seres humanos e, logo, existe quase que um dinamismo orgânico que temos de saber escutar.
A presença no mundo digital tornou-se mais urgente do que nunca. Qual a principal recomendação que deixam às empresas que querem rapidamente destacar-se no universo digital e entrar na área do e-commerce?
Tal como mencionado no livro Ser Digital, e é válido tanto para pessoas como empresas, há que desenhar uma estratégia primeiro. Não se deve abrir um website de e-commerce sem uma estratégia prévia.
Que necessidades do consumidor vamos satisfazer? O que vamos vender? O que nos distingue da concorrência? A quem vamos vender? Quais os objetivos de vendas? Design, formas de pagamento, logística, promoção do website, entre outros, são temas que carecem de um planeamento prévio que não pode ser descurado, sob pena de o projeto fracassar.
É importante “ser digital”, mas não nos podemos esquecer do mundo físico. Como deve ser encarado o desafio da conjugação online e offline, dois mundos que têm forçosamente de coexistir?
No livro Ser Digital, abordamos este tema, no capítulo das sinergias online e offline. A partir do momento em que somos pessoas, temos uma existência física. A presença digital é uma camada adicional à nossa identidade, que existe e tem um corpo, movimenta-se em espaços e relaciona-se com pessoas. Como tal, defendemos que deve-se tirar partido e sinergias.
Por exemplo, se vamos a um evento físico da nossa área de especialidade e onde nos queremos também afirmar no digital, vamos aproveitar esse momento para dar visibilidade ao digital. Outro exemplo é partilhar fotos, vídeos do evento, escrever um artigo com conteúdos exclusivos e aproveitar o próprio networking do evento para nos relacionarmos com outros participantes, com quem podemos depois vir a criar parcerias e colaborações online. Ou seja, o objetivo é tirarmos partido dos dois mundos e potenciarmos a sua interseção.
Por fim, porque sentiram necessidade de publicar este livro nesta altura e qual foi o vosso maior desafio?
Num mundo cada vez mais digital e em transformação, pareceu-nos pertinente e relevante fazermos uma reflexão sobre este tema e ajudar pessoas que queiram ter uma presença digital estruturada e bem-sucedida. O nosso maior desafio foi mesmo o livro ter sido lançado em contexto de pandemia.
Contudo, a própria pandemia acabou por tornar o tema ainda mais pertinente, trazendo-lhe atualidade e relevância. Vários estudos indicam que houve uma aceleração de quatro anos na transformação digital e nós esperamos estar a contribuir para quem dela queira tirar partido.