Um livro de estilo é uma ótima ferramenta para os profissionais que trabalham na área de produção de conteúdos. Além de apoiar na fase de escrita, facilita a edição e revisão dos textos. Mas sabe como criar um livro de estilo?
Os livros de estilo são essenciais para se seguir sempre a mesma linha editorial, respeitando a coerência e o rigor da informação, bem como para criar uma identidade. Assim, embora contribuam com regras ortográficas e gramaticais da língua, dão destaque a orientações subjetivas: o estilo da escrita, normas da entidade ou expressões particulares. Por exemplo, o livro de estilo do Público, uma referência para a comunicação social portuguesa, não só assinala conceitos e técnicas, como também a ética e deontologia do jornal.
Caso ainda não trabalhe com estes excelentes auxiliares de consulta rápida, ajudamos-lhe a perceber como criar um livro de estilo:
Regras de escrita
Todos temos hesitações, vícios ou lapsos pontuais que surgem quando estamos a escrever ou rever. Portanto, ao incluir neste guia de estilo algumas regras gramaticais, ortográficas e de pontuação, certamente irá facilitar e poupar tempo na consulta e resolução destas questões. Algumas dúvidas comuns são:
→ Acentuação, pontuação, ortografia
- Algumas palavras com som parecido e acentuação diferente, tais como os derivados de “pôr”, que não levam acento – “compor”, “depor”, “dispor”;
- Expressões parecidas com utilização diferente: “aparte” e “à parte”, “à vontade” e “à-vontade”, “espoletar” e “despoletar”;
- Uma pequena lista de vícios da linguagem, erros muito comuns ou expressões e palavras que usamos oralmente de forma incorrecta;
- Nomes que no singular levam acento e no plural não (“carácter” / “caracteres”) ou viceversa (“raiz” / “raízes”);
- Indicação de quando certas palavras ou locuções devem ir acompanhadas de vírgula, seja obrigatoriamente ou para dar ênfase, como advérbios, conjunções, complementos.
- Particípios irregulares e quando os utilizar: manifestar, ter manifestado, ser manifesto;
- Atenção a ter à conjugação de alguns verbos, como requerer (“eu requeiro”) ou reaver (“nós reouvéssemos”);
- Concordâncias (quando usar verbos no singular e quando no plural; os impessoais).
Alguns substantivos continuam a gerar dúvidas, ora porque foram difundidos no género incorreto ora porque podem ser usados nos dois e estamos habituados a ouvir apenas num:
- o/a amálgama, que pode ter dois géneros;
- o bracelete e o grama, que são masculinos;
- a aluvião e a sentinela, que são femininos.
Em particular, para palavras compostas, cores ou termos que só têm um número, como:
- Arcos-íris / guarda-chuvas;
- Duas camisolas creme / Duas camisolas castanhas;
- Quebra-nozes (plural e singular), fé (sempre singular) e núpcias (sempre plural).
→ Utilização de maiúsculas e minúsculas
- Nomes de ciências – com maiúscula sempre ou há exceções?
- Nomes de cargos e dignidades hierárquicas – com minúscula ou maiúscula?
- Depois de dois pontos, o uso de maiúsculas é facultativo – que regra quer seguir?
Os itálicos e as aspas são usados para estrangeirismos, títulos de obras artísticas e citações. Por vezes, os dois são utilizados para a mesma marcação, mas é redundante.
No caso das aspas, existem vários tipos e têm uma hierarquia no português, embora possa escolher quais prefere usar no geral: retas («»), elevadas (“”) ou plicas (‘’).
Os estrangeirismos devem estar sempre grafados a itálico ou entre aspas/plicas (especialmente em redes sociais ou meios que não assumam itálicos). Porém, se uma empresa usa muitos termos estrangeiros, esta regra pode cair. Se assim for, é necessário definir que palavras não obrigam ao seu uso.
Aqui, entre outras coisas, a chave será decidir:
- Até ou a partir de que quantidade se coloca por extenso?
- Como serão escritas as referências temporais, como horas e datas?
- Os milhares vão assinalados com ponto ou sem? As dezenas de milhar separam-se com ponto ou espaço?
- Os números decimais dividem-se com vírgula ou ponto?
Importa lembrar que em inglês se marcam os decimais com pontos e os milhares com vírgula. Ao recolher dados de uma fonte anglo-saxónica ou ao fazer uma tradução, deve ter-se atenção para não seguir esta regra, visto que em português é justamente ao contrário. Na mesma linha, é essencial estar atento à palavra “billion” (em inglês) ou “bilhão” (em português do Brasil), pois equivale a “mil milhões” em português de Portugal.
Existem mais informações e regras de escrita que se podem incluir, como a regência preposicional dos verbos mais utilizados, erros de concordância mais comuns, topónimos e gentílicos, siglas e acrónimos, critérios a seguir aquando de uma tradução, entre outros. Podemos ver um bom exemplo no livro de estilo da empresa Iberdrola. Para saber o que incluir e como criar um livro de estilo, deve perceber o que é mais utilizado nos conteúdos que escreve e o que gera mais discrepância ou dúvida.
Estilo
Certas decisões tomadas em relação às regras de escrita já incluem uma parte do estilo, como itálicos, aspas, maiúsculas e números, que têm alguma obrigatoriedade, mas que permitem também liberdade de escolha. No entanto, será sobretudo um conjunto de conceitos mais subjetivos que irá definir a sua imagem e que chegará, de forma subtil, ao público-alvo.
O estilo de escrita é o elemento diferenciador da empresa: a sua voz.
Isto significa que uma parte importante ao pensar como criar um livro de estilo é considerar a identidade de cada empresa. De que forma comunica a sua mensagem e a sua marca? Para quem comunica? Que tipo de linguagem usa? Que convenções são fundamentais, então, de incluir para que se siga sempre esse caminho?
A formalidade dependerá da empresa e do público-alvo. A entidade é institucional, descontraída, que tipo de produtos tem? O público-alvo é jovem e descontraído, mais formal, gosta de humor? As respostas irão definir se, por exemplo, a forma de tratamento será na segunda ou terceira pessoa, que tipo de palavras e tom devem ser usados e como estruturar as frases.
Uma contribuição relevante: colocar instruções sobre a adaptação dos conteúdos a diferentes meios. É possível que o registo mude; há entidades institucionais que nas redes sociais têm uma abordagem com mais humor. No entanto, mesmo noutro registo, a comunicação deve manter-se clara, coerente, correta e profissional.
→ Expressões e termos a utilizar ou evitar
Incluir um breve glossário com os termos técnicos utilizados é um bom apoio para evitar discrepâncias. Naturalmente, estará relacionado com o tipo de empresa, área e produtos.
Outra informação pertinente é a existência de termos ou expressões a evitar ou a favorecer. Aqui, a questão prende-se não só com o público-alvo e o produto, mas também com outras empresas da concorrência. Se algum termo for diretamente associado a outra marca, é possível que se queira evitar.
Caso haja também preferência na utilização de certas formas verbais (“irá fazer” em vez de “fará”) ou em evitar demasiados adjetivos, a voz passiva ou certos advérbios, poderá estar indicado no livro de estilo.
Os órgãos de comunicação social costumam ter especial atenção a este ponto. Porém, pode aplicar-se a todo o conteúdo e é especialmente útil devido ao SEO. Algumas considerações: se deve ter sempre subtítulo, qual o tamanho ou limite de caracteres dos textos, se os parágrafos devem ser mais curtos, como deve a informação ser organizada, como se deve concluir os artigos, etc. Um caso, aplicado ao digital, é o livro de estilo da publicação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Todas estas convenções irão marcar o ritmo do texto, juntamente com as palavras escolhidas.
Um livro de estilo pode definir alguns princípios que vão além da escrita, mas que, de uma forma ou outra, irão interagir com e marcar a mesma.
Algumas indicações gráficas podem ajudar a escrever e adaptar o texto. Saber o formato da paginação, se se utilizam imagens ou não, quais e quantas.
Da mesma forma, as normas de ética e deontologia de um órgão de comunicação social e de profissionais da área serão fundamentais na recolha e escrita de conteúdo.
Estes são apenas alguns exemplos de como criar um livro de estilo e daquilo que se pode incluir. Existem vários modelos, com mais ou menos informação, segundo o necessário para cada caso. Além dos já apontados, pode ver o guia de estilo do Centro de Informação Europeia Jacques Delors. Na realidade, o importante é que estejam especificadas as normas relevantes para a comunicação da empresa, de forma que se mantenha o profissionalismo, a coerência e a voz, e que se cative e fidelize o público-alvo.
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